terça-feira, 16 de dezembro de 2014

D I S L E X I A S






Há Amores que chegam e permanecem em forma de dislexias.
Demasiado plenos e completos para poderem exprimir-se sem a exaltação e o desassossego de duas almas em queda livre, simultânea e voluntária.

Em alguns dias são como tempestades feitas de arrebatamentos audazes de vontade e desejo comum. Desafiam a vida porque a força dos seus ventos lhes dá a certeza de que existem para se encontrar e se cumprir.

Noutros dias são como um tranquilo e preguiçoso Domingo que se esqueceu de acabar. E que prolonga e confirma num abraço essa não finitude do que se sabe e sente desde o primeiro momento.

São gigantes e imensos um dentro do outro.
Muitas vezes ele elogia-lhe os sorrisos sem se lembrar que é ele quem os inventa para ela.

E, num desses momentos em que dois corpos encostados são muito mais do que dois corpos encostados, ele diz-lhe que ela é a melhor coisa que lhe podia ter acontecido. Mesmo sabendo que continuarão a acontecer-se um ao outro todos os dias.
Mesmo que fechem e voltem a abrir os olhos vezes sem conta.
Porque não há do que acordar quando a realidade acontece para além das margens. E do sonho.

" ABRE LOS OJOS. "











sábado, 3 de maio de 2014



Ela não se lembra das horas.
Só daquela sensação sufocante de quando a distância ganha contornos quase palpáveis de tão imensa dentro do peito. E deixa de ser conceito para se transformar em matéria, ainda que feita de ausência.

O dicionário pousado em cima da mesa tem riscadas todas as palavras mágicas. Riscou-as à medida que foi deixando de saber sussurrá-las. E deixou-as escapar, mergulhada no receio de que o tempo que resta não seja suficiente para as reinventar.







terça-feira, 22 de abril de 2014



Algumas vezes, depois da porta se fechar, ela tem vontade de deitar fora a mala.
Deitá-la fora, assim... sem mais.
Talvez dessa forma possa fazer de conta que fica para sempre e adiar indefinidamente o momento da partida.

Deixar apenas guardado no bolso o necessário para respirar. E meia hora em que possa caber uma vida inteira. Ou várias. 
Talvez seja o que baste. Isso e o improviso de um abraço quando se está junto mas, ainda assim, é urgente estar mais junto.

Para além da mala, deitar fora também os mapas e as agendas e os ponteiros e os dias arquitectados... e guardar só o oxigénio e a coragem.
Essa. A de seguir e seguir sempre para um dia, finalmente, poder ficar.
A de seguir inteira, com o coração todo, mesmo que seja pecado.

Desembainhar a espada e, enquanto a luta se trava, ser só vontade de permanecer na urgência do abraço!