segunda-feira, 13 de dezembro de 2010




Somos todos casas assombradas.

Pelas desilusões, pelas palavras que não soubemos ouvir ou que não conseguimos dizer, pelos amores vividos e pelos que ficaram por viver.
Somos casas com janelas de vidros embaciados pelas tristezas. De mobília poeirenta onde, ao passar os dedos, se vislumbram as marcas e o brilho que antes tinham os sonhos agora desfeitos.

Temos candelabros baços no lugar dos olhos cansados de acender e apagar os dias.
E as portas rangem de saudade... de dor. São o lamento, o arrependimento que não ousamos confessar a ninguém.
E há gavetas entreabertas com sorrisos esquecidos. Tantos sorrisos que ficaram por chorar.

Somos todos casas assombradas.
Não pela morte.
Pela vida.


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

My Dear, We're Slow Dancing in a Burning Room...




E estas noites de frio intenso em que é tão difícil dormir.
Porque tu estás sempre aqui e mexes o teu corpo de encontro ao meu e obrigas-me a sentir-te.
E eu abro os olhos e tu não estás.
Afinal não estás aqui.
E tanto espaço...
E eu ainda não tenho espaço suficiente para o vazio de ti.
Ainda não tenho espaço suficiente na minha cama para não te ter.
Tanto espaço... 
Mas ainda não chega se tu não estás aqui.


quarta-feira, 10 de novembro de 2010




Lembras-te de quando eu te esperava sempre?

Esperar-te era esperar-nos.

E, quando tu chegavas, nós acontecíamos. 

 





segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Equinócio




O Outono já começou a sua dança.

Ouço as folhas caídas no chão no seu bailado melancólico, com tules e vestes em tons de fogo.

E relembro a minha dança de Outono.

A coreografia do nosso abraço quente a pintar de aconchego as paredes do meu Outubro.


domingo, 10 de outubro de 2010

She's a Loser in Love




Ela já devia ter aprendido a não jogar o mesmo jogo mais do que uma vez. Pelo menos não da mesma maneira. Porque jogá-lo talvez seja uma inevitabilidade.

Devia ter aprendido a reconhecer o perigo e a evitá-lo. Não se colocar em xeque, até porque já perdeu demasiadas vezes.

Devia saber virar as costas à tentação. Apagar a luz e deixar fechados no escuro o desejo e a vontade.
Não dar o passo que a faz cair e cair sem rede de protecção no mesmo abismo de ainda ontem...

E o amor? O amor?...
Não devia ter nada a ver com isso.
Devia ser só um pormenor.
E não devia fazer a mínima diferença.

 

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Desencontros




Sentei-me.

Fiquei à espera.

Olhei para o relógio como se isso adiantasse alguma coisa.

Mas a nostalgia chegou à hora do costume.

Cumpriu-se a pontualidade da tristeza.

Afinal, era essa a hora marcada para as minhas lágrimas acontecerem.

A asfixia do impossível.

Foi só mais um encontro a que eu não faltei.


terça-feira, 7 de setembro de 2010

... and then the rain started to fall ...




Sempre gostei dos dias de chuva que aparecem inesperadamente no meio do Verão.
Aquela sensação de frio que nos confirma que havemos sempre de precisar do conforto de um abraço. 
Até porque os "Verões" acabam sempre.
Gosto do cheiro da terra molhada, da forma como a água se torna parte integrante da realidade à nossa volta, e nos obriga a olhar de maneira diferente para as coisas de todos os dias.
Gosto do som do eco da água que me chega. Identifico-me com ela, porque a imagino perdida, desencontrada de si, sem perceber o que lhe compete mais fazer aqui para além de se abandonar a esta queda inevitável e contínua...
Também eu me sinto perdida em dias assim.
À espera de compreender melhor porque é que também eu me abandono à queda.

Sempre gostei dos dias de chuva que aparecem inesperadamente no meio do Verão.
Sempre achei que a voz do Mr. Morrison condiz na perfeição com este cinzento do céu que vejo da minha janela.
E fico a ver-me cair, enquanto o ouço dizê-lo em forma de canção...


 
 
 

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Best of You





Ainda nos sabemos de cor um ao outro, por fora e por dentro. Na pele e na alma.
E nem sequer há um ponto definido que marque o início. Parece que foi assim desde sempre.
Linguagem antiga, que trazemos no corpo e existe para além de nós.


"I was too weak to give in
Too strong to lose
My heart is under arrest again
But I break loose
My head is giving me life or death
But I can't choose"
 
 

 

domingo, 8 de agosto de 2010

"Some words when spoken, can't be taken back"




Sabes?...
O vazio que ficou ainda é avassalador.

Ainda me perco nesta vontade quase constante de te contar os meus dias e as minhas noites.
De partilhar contigo aquelas coisas pequeninas que me habituei a dividir por dois.

Ainda me assusta saber que não devo pegar no telefone de cada vez que quero muito falar contigo.


Ainda me aterroriza o silêncio que fica em vez da tua voz.

E ainda me sinto fraca e vulnerável por não ser capaz de lidar com isto de outra maneira.
Ainda...

E são ainda tantas as noites em que adormeço rendida ao cansaço, por já não ter mais forças para lutar contra as saudades que sinto de ti.

 

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Será que também viste a lua esta noite?




" I'll see you again when the stars fall from the sky
And the moon has turned red over One Tree Hill.

We run like a river runs to the sea
We run like a river to the sea. "
 
 
 
( One Tree Hill - U2 )
 
 
 
 

quinta-feira, 8 de julho de 2010





Hoje esqueci-me de adormecer.

E fiquei a inventar histórias para mim.

A fazer de conta que a mais bonita de todas ainda não me aconteceu.


terça-feira, 22 de junho de 2010

Está tanto vento...




Tantos ventos que me tocam a pele.
Uns são de hoje ou de ainda ontem.
Outros são já só ventos da memória. Mas não se sentem menos por causa disso.
E revolvem tudo à sua passagem.
Brisas antigas que escaparam ardilosamente da palavra "passado" e se fazem presentes.

E o vento cerca-me. E o vento prende-me. E o vento abraça-me.
Estranha compreensão essa, do tempo em relação aos ventos.
Prolonga-os num contínuo que só a nós escapa.
Porque nós concebemos a palavra Fim.
Mas o tempo não.


 

terça-feira, 1 de junho de 2010

Boats against the current



Só uma interrogação. Apenas uma. E no entanto a resposta seria suficiente para definir tudo. Seja lá o que isso for. Tudo.
Dantes era assim que eu dizia. Era assim que eu pensava. Era assim que eu sentia:

O teu silêncio soa a dezenas de portas que se fecham, uma a uma. Um eco que embate nas paredes frias do meu imenso medo de já não te ter.
E que se prolonga até eu ter a certeza que é esse o ruído de tu já não estares aqui.

Já não é assim agora. 
O medo? Foi arrastado há muito pelas ondas de um oceano que vive dentro de mim e que eu desconhecia.
Agora ficou só a interrogação. Sem receios. Só a necessidade de qualquer coisa mais parecida com uma certeza.
Uma maré mais calma, que me empreste a sua cama de ondular suave para descansar e da sua espuma me faça sonhos.
Só isso.
Nada mais.
Não ser mais um barco contra a corrente do teu mar.


sexta-feira, 16 de abril de 2010




Já não sei qual é o caminho de volta à tua ternura.

Quando tinhas canções no fundo do mar dos teus olhos.
Quando, definitivamente, eu existia no teu olhar.



 

quinta-feira, 25 de março de 2010

(Des)Esperança




A voz do locutor de rádio chega-lhe de longe, como se ainda fizesse parte do resto de um sonho que se esqueceu de acabar.
- Durante a manhã as condições são favoráveis à ocorrência de trovoadas...
Percebe que está acordada quando é invadida pela vontade enorme de voltar a fechar os olhos e dormir. Só dormir. É dispensável sonhar...


25 de Março de 2010 e as primeiras notícias do dia...O que lhe interessa a ela o que se passa para lá daquelas paredes que o seu olhar abarca? Se ainda dissessem que o Sol lhe vai explodir dentro do quarto!
Mas nem o mais pequeno indício de luz. Nem o do rádio que, neste momento, ela desliga como se desligasse tudo o que nela ainda resta de esperança. Ou expectativa. Ou promessa. Já não se lembra como se diz, quanto mais como se sente...

Mas há uma coisa que ela sabe. Talvez seja só essa. Mas sabe-a sem suspeita. Com uma fé inabalável.
Que não importa quantas manhãs ainda vão nascer. Quantos dias ainda vão acontecer. Quantas noites vão acabar. 
Não interessa se é um fragmento de um segundo ou antes uma eternidade que ainda falta até ao fim...
Mas ela sabe que tudo fica sempre por dizer. Tudo fica por fazer. O amor todo por acontecer. A verdade... toda por acreditar.


E então, ao som do primeiro trovão, encolhe-se e aconchega-se no seu desalento.
Talvez assim a vida se lembre de a esquecer.






segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Um café e um arco-íris

 




Percorreu a rua do costume e entrou no café dos candeeiros grandes que reflectiam a luz num mágico jogo de cores.
Sentou-se e pediu um café. Cheio, para preencher os espaços vazios.
Enquanto esperava olhou para os pequenos arco-íris formados no tecto pelas luzes a brincar. Teve saudades do cheiro que tinha o céu quando era criança e quando os arco-íris eram reais e tinham mais do que sete cores.

Pegou na chávena e saboreou o quente do café. Como a areia fina onde enterrava os pés nas tardes de Verão de uma adolescência feliz e intensa.
Sorriu na direcção da mesa em frente, enquanto sentia a solidão arrastar uma cadeira e sentar-se ao seu lado.

Alguém abriu a porta para sair. Sentiu frio, como sentia agora todos os dias ao chegar a casa. Aquele frio que vem de dentro e que sentia de todas as vezes que, em frente à lareira, o fogo lhe reflectia no olhar as ausências em que não queria pensar.

Pagou enquanto fingia que acreditava no olhar simpático que a atendeu e saiu rapidamente a tentar despistar a desilusão.
Mas lá fora o céu já não tinha cheiro. Lá fora o calor das memórias desvaneceu-se no presente.

E enquanto regressava pela rua do costume, já não soube fingir mais, e chorou um rasto salgado para que a solidão não se perdesse no caminho.




terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Das Despedidas.





E foi assim que ela lhe disse que ia embora.

Não houve despedida.

As despedidas não são mais do que prolongamentos sado-masoquistas de instantes que em algum momento no tempo foram felizes.
Prolongamentos com tentáculos viscosos e espessos de nostalgia e ventosas de saudade, que se agarram com desespero ao momento presente e lhe roubam o ar, num aperto fatal que dói e sufoca.

Foi assim que ela lhe disse.

Não houve despedida.

Não há despedida quando se quer ficar.