domingo, 31 de julho de 2005

Labirintos

Dói-me a cabeça. Estás longe. Estou vestida de preto. A noite nunca mais acaba.
O meu olhar está pesado e não é capaz de decifrar os objectos. Sinto-me distante.

Perco-me no labirinto de um prazer muito recente. Será que já chegaste?
Fecho os olhos. A dor de cabeça continua.

Já não me lembrava da parte triste das despedidas. Daquele último instante em que pode acontecer tudo o que nunca tinha acontecido antes.

Ás vezes a realidade devia ser proibida.

quarta-feira, 27 de julho de 2005

Indefinição

É na sucessão de dias com sabor agridoce que hoje chego até aqui. Com o olhar pousado nas sombras dos desejos que não posso transformar em realidades, mas com as mãos transbordantes de instantes concretos e perfeitamente definíveis.

Estou actualmente neste limbo. Melhor dizendo, tenho eu própria sido essa orla, essa extremidade em que há sempre a possibilidade de tombar para qualquer um dos lados.

Sinto o prazer e sinto a dor. Intensamente. Mas não sou nenhum deles. Sou antes aquela indefinição que fica entre um e outro. Talvez apenas uma transição, uma breve passagem que não chega verdadeiramente a "ser" o que quer que seja.

Deixemos as memórias. Definitivamente.

segunda-feira, 25 de julho de 2005

Se eu pudesse ser outra pessoa escreveria assim para ti

É estranho estar neste sítio sem ter a minha mão entrelaçada na tua. Quase como se este cenário não pudesse existir a não ser para nós. Como se no fundo viesse sempre à espera de nos rever, de nos voltar a encontrar...nem que seja só noutras mãos que se entrelaçam...

Tu não estás aqui.
Eu sei.
Mas não quero ter que saber isso.
Não quero saber que não estás aqui.

As coisas estão impregnadas de tristeza. E as notas da "Sonata ao Luar" são um adeus demasiado longo, demasiado lento...

Olho com atenção e é o meu corpo nu a abraçar o vazio que ficou no teu lugar.
Hoje acordei sozinha. Mais uma vez. Como acordo todos os dias. Mas hoje reparei nisso. Lembrei-me, e ao tomar consciência, acordei muito mais sozinha. E esse meu pensamento fez eco nas paredes do quarto, devolvendo-me o som da solidão...

sábado, 23 de julho de 2005

Hoje eu escrevo que...

...não consigo definir este receio... talvez porque consiga senti-lo emocional e fisicamente.

É um daqueles medos que nos cativa, que de certa forma nos incomoda, mas que intimamente desejamos continuar a sentir. Porque mexe connosco. Altera o estado das coisas à nossa volta. E, num único instante, faz a dúvida e a certeza coexistirem num misto confuso de fluídos que nos percorrem o corpo num estremecimento forte e fatal.

E rendemo-nos.

Teremos nós, alguma vez, outra hipótese?

sexta-feira, 22 de julho de 2005

Só porque me apetece escrever

"Mas uma aventura não recomeça, nem se prolonga", como dizia Sartre no romance "A Náusea". E é precisamente por não acreditar (ou não querer) nessa frase tão simples que começo a escrever neste fim de tarde.

A luz esvai-se devagarinho por entre o verde das árvores que consigo vislumbrar desta janela. "Uma aventura não recomeça", e os dias e as noites vão-se então gastando nessa impossibilidade?

Cheguei aqui hoje, ainda há pouco. E só porque me apetece escrever, é esta hoje a minha aventura...