quarta-feira, 31 de agosto de 2005

Vou fazer-te uma pergunta...

...que me fizeste há bem pouco tempo atrás: diz-me o porquê desta dor que não passa.
Não passa. E o teu olhar está mesmo aqui à minha frente. E eu choro enquanto te vejo olhar ternamente para mim, a sorrir. E choro enquanto o meu corpo se desfaz numa súplica dolorosa que te possa trazer a felicidade que sinto que mereces. E choro também enquanto me iludo conscientemente, querendo convencer-me que essa felicidade que desejo para ti possa ser, toda ela, partilhada comigo.

A lua está fria. E distante. Tudo está longe de mim. Tenho medo. Tanto medo de deixar que a vida continue a magoar-me. Não me dizes uma palavra. Nada para apaziguar um pouco esta tempestade que destrói tudo dentro e fora de mim. Tenho frio. E choro lágrimas quentes que me queimam a cara e que chamam por ti. Tenho vontade de gritar mas não o faço. Ainda há uma parte de mim que teme a loucura.

O ar vai ficando mais pesado porque o tempo não passa. Há coisas a começar e a acabar, neste exacto instante, vidas e sonhos, e ondas do mar e estrelas, e palavras e encontros... E eu estou aqui parada. Não sei se à espera que algo comece ou acabe em mim. E o mundo chega-me como um estranho que não convidei para minha casa. E em todos os gestos, meus e dos outros, parece-me ver uma despedida...

terça-feira, 23 de agosto de 2005

Time heals, but I'm forever broken

Tudo me faz doer por não poder ser partilhado contigo. E aquilo que me faz lembrar de ti, magoa-me também, numa dor pequena e aguda, porque traz para perto a tua distância, tornando demasiado presente a tua ausência.

Estou cansada. Há ecos estranhos em mim. Ecos de vivências que se confundem no espaço e no tempo, porque já não têm espaço nem tempo concretos. São apenas ecos, ressonâncias de felicidades que já existiram. Ecos de tristezas profundas e envolventes. Ecos de mim, perdidos em mim...

O que é que se faz num mundo destes, que na maior parte das vezes nem sequer é mundo... é sim um abismo que, cruelmente, não nos deixa vislumbrar o seu fundo e por isso não nos permite adivinhar o instante da queda...

sexta-feira, 19 de agosto de 2005

Não vou por aí

(...)
Ide... tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura:
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios!

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe,
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga:"vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
-Sei que não vou por aí!


Excerto do "Cântico Negro" - José Régio

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

(...)

Como é que eu posso dizer-te o que se passa se tu não estás aqui?

Quando o que se passa é precisamente tu não estares aqui.

quarta-feira, 10 de agosto de 2005

Falsa manhã

Hoje ainda não te vi. Mas nem por isso os relógios pararam ou o dia deixou de nascer. Estás algures por aí, e apenas esse facto faz com que o tempo continue a passar, mesmo que ninguém saiba o que isso significa.

Tenho novamente a tua voz em forma de desejo, o teu olhar com o som de nós os dois e o teu sorriso como prova da existência...ou da sua falsidade...

O dia está lindo. A frieza está ausente. A minha tristeza é tão subtil que mal consigo senti-la... Mistura-se suavemente com o aroma forte da manhã e instintivamente vai ter contigo. A nossa melodia ecoa, ora longe, ora próxima, e atenua os sinais da minha tristeza, mas não a sua origem.

E é surpreendida que, nesta manhã fria de desunião, descubro que realmente ainda te quero.

sábado, 6 de agosto de 2005

Pensamentos desfeitos

Mensagens. Que te mando e que nunca recebes. Escrevo-te tanto. Hoje há muitas estrelas no céu. Neste céu que é nosso, todos os dias. Irrita-me este ruído constante da tua distância. Onde estás neste exacto segundo? Talvez não se devesse jogar este jogo.

Fecho os meus olhos devagar e com muita força. Não te conseguiria resistir, mesmo que quisesse. Sinto todos os teus movimentos. Apesar de todos os mundos que ficaram atrás de nós. Ouço-te respirar. Se só esta noite tu acreditasses na lua... Ouço o passar do tempo no relógio. A noite passa tão devagar. Não imaginas quanto tempo eu esperei... Mas esse segredo ainda é meu.

Talvez eu já precisasse muito de ti antes de te conhecer. Como é que se chega aqui? Anoitecer. À noite ser...o quê? Liberdade. Quando te sinto imenso. Quando me surpreendo a amar-te. O Universo parou. Pára sempre que tu queres. Um dia vais perceber.

17 minutos para as 11 horas da noite. Penso em mim. Falo comigo. De ti. Penso em ti. Olho à minha volta. Não existe um único sítio onde eu me possa esconder. Mas tenho que saber o que está do outro lado da porta. Mesmo que ela esteja fechada. Eu quero lutar contigo. Mandar-te uma carta. Às de Espadas.

Uma destas noites vou ouvir a tua voz outra vez. A tua voz, mesmo ao meu lado. Mas não digas nada a ninguém. Só eu é que sei. Só eu...