terça-feira, 3 de maio de 2011




Disseram-lhe que o comboio estava atrasado e ela sentou-se calmamente à espera, como se com o comboio também a vida atrasada.

Um sorriso sereno desenhado a carvão no rosto, com linhas leves.
Não tinha pressa.

Que diferença fazia o comboio atrasado uma hora, um mês ou a vida inteira, se a partida e a chegada eram sempre um mesmo e único lugar?

 



terça-feira, 29 de março de 2011

Naufrágio





Gosto que os teus beijos continuem a ser a bússola que me desnorteia os sentidos.

Gosto quando entras em mim e eu me sinto barco em alto mar.
A agitação das ondas na pele... 
A levar-me, rendida, de velas rasgadas, rumo ao naufrágio doce de prazer na praia quente dos teus braços.



sábado, 5 de março de 2011

Moonlight Shadow




Estranho isto de o meu céu hoje ter dois luares.

Um que controla as marés que se agitam nos meus olhos. 
Para não as deixar submergir a praia deserta dos meus lábios.

O outro?
Esse não sabe o que faz.

Cega-me à queima-roupa... e deixa-me sozinha com o meu vício.
Este.
De te querer.
Ainda.
Apesar de tudo.




segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

. . .




Eles não sabem do que falam quando me contam de ti.

Não sabem que juntos já fomos ao Inferno e voltamos.

Que juntos já vivemos tantos fins que lhes perdemos o medo.

E que, por isso, somos donos de todos os recomeços.



quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ges(tu)s




Ás vezes encontro-te nos gestos de outras pessoas.
Como hoje, quando fui lanchar à beira-mar.
Mas depois... as ondas não me trazem nada de ti. Nem o teu cheiro, nem o teu toque.
E, então, não deves ser tu que estás aqui. Não podes ser tu.


Já o mar... 
Esse é um espelho de mim. O reflexo perfeito.
Revolto, louco. Em busca de uma calma que não sabe se existe.
E cinzento.
Turvo.
Fundo.
Baço, porque perdido.