Afinal o barulho do gelo também se ouve amor. Não é só o do vento e da chuva. Ouve-se demasiado alto nas presenças que afinal não passam de ausências disfarçadas de uma vontade que já não se sente.
Ontem não estiveste, mas eu preciso de te contar que o vento chegou em assobios escuros. Preencheu todos os espaços, entre todos os corpos que se encontravam tão, tão perto... Mas que no entanto se perdiam de vista, numa distância enorme feita de palavras a menos, trocadas na impaciência de um segundo.
Fizeste-me tanta falta lá, talvez me tivesse desiludido menos um bocadinho se estivesses ao meu lado. A insensibilidade aos outros continua a surpreender-me.
Ao vir embora, o gelo que nasceu nos vidros do carro, ia assumindo as cores dos meus sonhos de criança... mas eram só as luzes, eram só os reflexos da viagem. Faltou-me o teu abraço, o teu sorriso, para me diminuir a tristeza.
Haverá alguma coisa errada com as minhas expectativas?...
Desculpa hoje escrever-te assim. Não serão estas as palavras mais bonitas.
Mas também podemos falar de desilusão, não podemos meu amor?