quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

La Nuit



Quero outra vez as noites de antes. Quero outra vez a escuridão incontornável da entrega e do abandono.

Lembras-te de como era? Antes... Há muito tempo... Lembras-te de como nunca mais vai poder voltar a ser? A noite foi sempre a nossa única companheira, não foi? Nós e a ausência de luz... eternos cúmplices e confidentes.

Consegues recordar o universo de afectos que preenchia o espaço entre nós? Eu fecho os olhos. E sei que estou aqui. Mas a noite vem sempre segredar-me ao ouvido murmúrios do passado que às vezes não sei entender...

Alguma vez te agradeci a raiva que acordaste em mim? Quebraste o encanto sem cuidado, sem beleza. Foi feia a forma como o fizeste. Mas eu voltei a sentir.


"Si je t'oublie pendant le jour
Je passe mes nuits à te maudire
Et quand la lune se retire
J'ai l'âme vide et le coeur lourd"

(La Nuit-Adamo)



sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Hoje



Hoje cheguei a casa zangada com a vida por não me apresentar mais caminhos. Mais alternativas.

Hoje questionei tudo. Duvidei de tudo. Tive todas as certezas. E nenhuma.

Hoje senti-me nua e exposta e frágil, mesmo trazendo vestido o sorriso que alguns viram.

Hoje chorei muito. Como se a alma se pudesse curar assim.

Hoje quis dizer-te tudo e acabei, mais uma vez, por não te dizer quase nada, sufocada no meu próprio silêncio pesado e tonto de tristeza...


"I was the one that made you happy
I was the one that eased the pain
But I'm the reason that you're crying now
My own tears scattered by the rain"

(Sacrifice - Anouk)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

Momentos



Muitas vezes, enquanto a vida continua a acontecer à nossa volta, não temos outra escolha para além de nos deixarmos ser solitários. Penso nisso agora, num momento raro em que te diria tudo o que digo a mim mesma.

Tantas foram as vezes em que vim embora. Sempre sem saber se continuavas a gostar de mim, mesmo quando já não eras capaz de me ver. Mesmo quando parecia que os nossos mundos estavam demasiado afastados.

O frio está insuportável. Obriga-nos a fechar ainda mais qualquer coisa indefinida que existe dentro de nós. Por isso vim aqui. Para tentar ficar mais perto. Porque o desejo de ti também é insuportável. Faz o abraço que tenho guardado para nós parecer absurdamente diferente de todos os outros. Não apenas um enlaçar dos nossos corpos apertados um no outro, mas qualquer coisa mais. Um instante de transcendência, se é que me é permitida tal presunção... uma essência que fique no meio da raiva e do amor que te tenho.

O frio está insuportável. Mas continuo, inabalável, a alimentar os meus afectos tolos...