segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Noites Velhas



Noites mornas e ternas.
Deu-se absolutamente tudo o que havia para dar.
Não ficou nada por dizer.
Excepto o que nasceu depois.
Muitas noites sem rumo, muitos gritos da alma que se afundavam na realidade que não podíamos nem sabíamos mais combater.
Noites em que nos perdíamos e nos reencontrávamos vezes sem conta.
Só porque era bom.
Só porque era muito difícil ficar sempre.

terça-feira, 20 de setembro de 2005

Não quero que o quarto seja este quando eu disser as palavras que até hoje ainda ninguém ouviu.

Não quero que sejam estes os lençóis. Devem ser outros, de outra cor.

A luz não pode ser tão forte. Tem que ser mais suave para não sufocar a verdade.

Não quero que o quarto seja assim. Porque nesse instante não pode existir mais nada para além dele.

Quando eu disser as palavras que nunca disse...

Os lençóis onde eu estiver deitada devem confundir-se comigo. Misturar-se. Diluir-se em mim. Para formar uma essência que se dê a conhecer apenas nesse breve momento e que logo depois se dissolva, para nunca mais existir...

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Nunca falamos sobre hoje, pois não?

Hoje venho cá apenas para te dizer que, de repente, os dias voltaram a passar. Os objectos que me rodeiam deixaram de estar cobertos por uma espessa camada de pó e revelaram-me novamente a sua natureza em forma de cor, textura e geometrias variadas.

Hoje venho cá para te dizer que não me importo que estejas longe. Prefiro essa ausência à que sentia quando estavas presente. Subitamente a distância de mim aos outros dissipou-se e deu lugar a um mar que me transporta na sua ondulação sem destino pré-definido. E não me angustia mais não saber exactamente onde me vai conduzir.

Hoje dei por mim a vibrar novamente só por notar que a minha pele ainda é macia e quente, que a minha boca ainda tem a forma do desejo e que as minhas mãos ainda mergulham sofregamente na realidade com a certeza inabalável de que vale a pena ousar...

Olhei o meu reflexo em tudo o que à minha volta mo devolve. E, surpreendida, constato que estou a sorrir...

Hoje vim outra vez falar contigo. Afinal, nunca falamos sobre hoje, pois não?

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Segredo

Tenho andado alheada de sonhos e sido cúmplice de uma realidade que antes não deixava aproximar-se. Conivente e comparsa num plano que não sei como termina.

Vou movendo o meu corpo indiferente à brisa que me rouba e leva para muito longe as essências de outros dias...

Posso dizer-te um segredo? Eu sei. Sou sempre assim um bocadinho louca.