Percorreu a rua do costume e entrou no café dos candeeiros grandes que reflectiam a luz num mágico jogo de cores.
Sentou-se e pediu um café. Cheio, para preencher os espaços vazios.
Enquanto esperava olhou para os pequenos arco-íris formados no tecto pelas luzes a brincar. Teve saudades do cheiro que tinha o céu quando era criança e quando os arco-íris eram reais e tinham mais do que sete cores.
Pegou na chávena e saboreou o quente do café. Como a areia fina onde enterrava os pés nas tardes de Verão de uma adolescência feliz e intensa.
Sorriu na direcção da mesa em frente, enquanto sentia a solidão arrastar uma cadeira e sentar-se ao seu lado.
Alguém abriu a porta para sair. Sentiu frio, como sentia agora todos os dias ao chegar a casa. Aquele frio que vem de dentro e que sentia de todas as vezes que, em frente à lareira, o fogo lhe reflectia no olhar as ausências em que não queria pensar.
Pagou enquanto fingia que acreditava no olhar simpático que a atendeu e saiu rapidamente a tentar despistar a desilusão.
Mas lá fora o céu já não tinha cheiro. Lá fora o calor das memórias desvaneceu-se no presente.
E enquanto regressava pela rua do costume, já não soube fingir mais, e chorou um rasto salgado para que a solidão não se perdesse no caminho.