sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Espelho




Era ainda cedo quando cheguei, ou talvez fosse já tarde e eu não tenha sido capaz de descodificar o tempo em que me movia.

O rio estendia-se muito para além das margens. Curso de água que, de repente, era também fluído da alma e espelho partido em mil destinos líquidos.

Numa inspiração brusca e intensa o ar invadiu o meu corpo, e a minha mão húmida procurou o amparo sólido do teu abraço. Do teu colo fiquei a olhar o rio, a espiar-lhe os desejos, a adivinhar-lhe os pensamentos... a sentir o "nós" que em tela de veludo reflectia.

Não sei bem se foi assim que adormeci ou se foi assim que acordei. Antes ou depois do tempo que como um íman empurra a água sempre na mesma direcção. Antes ou depois do medo.

Sei que vim embora. E que trouxe as margens transbordantes comigo. Sei que aprendi mais da nossa essência, daquilo que somos juntos.

E sei que foi só uma lágrima, amor.
Foram muitos, muitos mais os sorrisos...

Porque o espelho nos devolve tudo.