Às vezes o pôr do sol é só meu.
Egoísticamente meu.
Arranco-o ao céu num gesto libidinoso, num atrevimento carnal. Como se fosse objecto especial que se pudesse guardar e estimar no aconchego castanho de uma gaveta.
A mistura ardente de tons é repentinamente espelho de mim.
E sussurro-te ao ouvido nessa hora.
(É este o calor e a força com que te quero, meu amor.)
Há agora também uma brisa que tem o som e o cheiro da tua ternura. Arca do tesouro de doçuras.
(Nada no mundo sabe melhor do que as tuas carícias.)
E o pôr do sol não sabe que está abrigado no mesmo recanto em que encontro as tuas palavras.
(Disseste-me há dias uma frase que não existia. Uma frase que eu nunca tinha imaginado, mas que sempre desejara ouvir.)
Às vezes, no meu pôr do sol, não há mar, não há céu.
Fica apenas o que resulta dessa união. Qualquer coisa que ultrapassa o momento... e permanece.
(Como nós, amor.)
E sorrio-te enquanto te amo.
Sorrio também da minha ingenuidade em acreditar que imortalizo o nosso desejo ao roubar o pôr do sol.
(Ele renasce de cada vez que penso em ti, sabias?)
Sabor a paz de fim de tarde. A minha mão está firme na tua. As nossas bocas mergulhadas num beijo nosso.
(Fica...)